Conversando com os postes no silêncio da Vila Carioca

Conversando com os postes no silêncio da Vila Carioca

Caminhando cedinho, no silêncio ensurdecedor do bairro, sem uma alma viva para conversar, os objetos tentam se comunicar e dar pistas sobre a vida que habitava as redondezas destes postes, destas árvores, destes paralelepípedos, destas sarjetas, destes muros esboroados e destes objetos jogados fora.

São penduricalhos encontrados na vivência, na “morrência” da Vila Carioca.

Quem foi esse Roberto Koch da placa da rua, abraçado calorosamente pela amoreira?

Quem pintou e enfeitou a figueira da rua Colorado com um quadro de um tempo antigo? É o tempo retido, tempo dentro do tempo? Como se abrisse um portal para outra dimensão e a gente voltasse à vila do tempo dos chapéus e dos burros?
Qual foi o placar do último jogo de futebol de botão nesse tabuleiro abandonado na Av. Presidente Wilson? Na minha época a gente chamava esses campos, o nosso Morumbi, o nosso Pacaembu, de Estrelão. E o pau comia naquele estádio dos sonhos.

São perguntas para as quais o vento tórrido não traz respostas.

Esvaziada da maior parte das suas indústrias (montadoras, metalúrgicas, tecelagens), que quilômetros penosíssimos de percorrer a pé com galpões vazios morrendo de inanição à nossa triste vista, em busca de alguém que nunca surge!, a Vila Carioca é, em grande parte, um bairro meio fantasma.

Ainda não havia para mim dona Mariquinha e a afetuosidade de seu bar, nem a comunidade futebolística-etílica do Carioca, muito menos o êxtase solidário da Imperador.

Era até aqui só a solidão esboroada e decaída.

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